quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A difícil arte de torcer para algum time além do Botafogo

Não tenho times em outros estados. Em outros países até pode ser. Me tornei botafoguense em 1989, num jogo contra o Flamengo, time para o qual o meu avô materno queria que eu torcesse. Na primeira metade da década de 1990, gostava do Palmeiras e do Milan. Depois passei a ter a noção de que o rubro-negro não combinaria comigo e passei a torcer para a Juventus de Turim. Mas em 1996, quando a Vecchia Signora não permitiu que o Botafogo usasse a sua tradicional camisa listrada de preto e branco, passei a ter raiva desse timeco da Itália. O Botafogo acabaria campeão do Torneio Tereza Herrera com a camisa do La Coruña, da Espanha, clube pelo qual passei a ter um carinho especial por conta deste fato. Na Espanha também gosto do Real Madri, time em que jogou o campista Didi. Prá vocês verem como é difícil torcer para m time que não seja o seu. No sul gostava do Grêmio até saber que parte de sua torcida é neo-nazista. O mesmo fato ocorreu com a Lazio da Itália, a qual admirava por lá ter jogado Djair, ex-Botafogo e Fluminense. Mas depois também descobri que os torcedores da Lazio também são neo-nazistas. Racistas, xingam e jogam bananas para os jogadores negros, dentre eles alguns brasileiros. Por falar em Fluminense, acreditem ou não já vesti a camisa do tricolor na infância, quando jogava no mirim do Campos Atlético. E o Fluminense foi um dos motivos de eu deixar de torcer para o Vélez, da Argentina. Comecei a gostar do time azul quando ele venceu o São Paulo na Libertadores. Também gostava da camisa com um “v”. Mas depois que soube que a torcida deles é parceira do Fluminense desisti. Outra coisa que me desmotivou a torcer para o Vélez é que num jogo que vi deles esse ano, reparei que a torcida deles canta uma música de Xuxa no estádio. Isso diminuiu ainda mais minha afeição pelo Vélez. Estou dizendo tudo isso porque agora tenho um time para torcer na Argentina. É o Boca Juniors, da tradicional La Bombonera. É que os hermanos vão disputar um amistoso no dia 26/01 contra o rival River Plate (que nos eliminou da Sul-Americana de 2007) com uma camisa alvinegra, uma referência ao primeiro uniforme do clube de 1905. Tai, prá quem não tinha time na Argentina, vale torcer para o Boca por conta dessa camisa (o modelo da foto foi usado no centenário em 2005).

sábado, 19 de novembro de 2011

Procura-se um treinador


Começaram as especulações sobre quem será o novo técnico do Botafogo. O nome de Paulo Autuori, campeão brasileiro de 1995, surge com força no clube. Paulo Autuori está no Qatar, onde comanda a Seleção de base. Não acredito que seja o melhor nome para o Botafogo. Tudo bem que ele foi campeão em 95, mas não podemos nos apegar a superstições nesse momento. Meu pai, em tom de ironia, falou até em Espinoza. Um louco, amigo meu, lembrou de Jair Pereira. Meu pai lembrou que Jair estava sozinho na Praça São Salvador, aqui em Campos, certa vez.

O momento é de um nome novo. Nem Cuca serve. Esses treinadores que já passaram pelo clube várias vezes e não tiveram o mesmo sucesso. É o caso de Autuori, que teve outras passagens não tão boas. Cuca saiu com fama de derrotado, pé frio. Um bom nome dos cogitados é o de Marcelo Oliveira, do Coritiba. Ele já jogou no Botafogo, conhece o clube. O problema é que já renovou com o Coxa. Nada que uma vaga na Libertadores não mude. Por falar em nada, não me venham com Renê Simões. Por favor. Isso é brincadeira. Nem Renato Gaúcho. Que parece – ainda bem – já foi descartado.

Jorginho, da Portuguesa, é treinador de time pequeno e Jorginho, do Figueirense, nem pensar, tem perfil de flamenguista. Sabem o que ele disse depois que o Figueirense ganhou do Botafogo? “Deixaram a gente chegar!” Não precisa nem dizer mais nada. Meu pai diz que botafoguense não gosta de ninguém. Nenhum técnico vai agradar. Por isso a torcida pede Loco como técnico. Enfim, qualquer um pode comandar o time desde que respeite a instituição Botafogo, sua história, suas glórias e sua torcida, principalmente. Quem sabe o Alessandro, que já mostrou gostar do clube e está em fim de carreira.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A cada derrota eu me torno mais botafoguense

Eu confesso. Meu pai levou dois flamenguistas ao Maracanã em 1999. Um colega dele, que foi dirigindo o carro; e o pai do colega dele, os dois com o mesmo nome que prefiro não pronunciar. Eu confesso. Não usei uma camisa do Botafogo na final da Copa do Brasil daquele ano contra o Juventude. Preferi colocar uma camisa azul, neutra. Confesso que desde aquela época tinha medo de flamenguista. E eu que já fui flamenguista, também confesso. Pois bem, aquela viagem terminaria com o Botafogo perdendo o título em pleno Maracanã lotado com 110 mil pessoas, nem todas botafoguenses – pelo menos duas eu tenho certeza.

Na volta a Campos, no Oasis (lanchonete/restaurante famoso na estrada para o Rio) um indivíduo com a camisa do Palmeiras chamou atenção dos botafoguenses. O Juventude que havia segurado o zero a zero com o time da casa e se sagrado campeão era patrocinado pela Parmalat, assim como o Palmeiras. Foi a senha para um tumulto geral. Os alvinegros queriam esganar o palmeirense que tinha a camisa também das mesmas cores do time gaúcho. Ainda na volta para Campos fomos, meu pai e eu, obrigados a ouvir o hino do Flamengo várias vezes. Uma verdadeira tortura.

Conto isso porque caímos, meu pai e eu, no mesmo erro de levarmos um flamenguista a um estádio para ver um jogo do Botafogo novamente. Nosso amigo Avelino Ferreira, que diz torcer para todos os times do Rio. Aquele discurso politicamente correto de que os times do Rio têm de estar bem. Conversa fiada. Logo ele que é tão polêmico, fala o que pensa e não gosta de fazer média com ninguém. Emfim, fomos ao jogo ele, nosso amigo flamenguista Avelino Ferreira, sua esposa, Viviane, que diz ser vascaína, meu pai, Fernando e eu, quem vos escreve.

Era a minha primeira vez no Engenhão. Logo no início do jogo, gol do Figueirense. Silêncio no estádio. O gol parecia que tinha sido anulado. Todo mundo parado. E Viviane solta uma gargalhada. Ela não entendeu nada. O jogo corre e nada de o Botafogo fazer o seu gol. Fim de partida. O Botafogo perde. Isso foi no sábado. Na segunda tinha um lançamento de um livro para eu participar. O livro que seria lançado tinha uma crônica minha “O palito de churrasco”, sobre uma história real que aconteceu comigo quando fiz uma “macumbinha” para o Botafogo não perder do Flamengo num jogo de master no estádio do Goytacaz em Campos.

Tindo ido ao Rio muito mais para o lançamento do livro. Aproveitei que ganhei dois ingressos como prêmio por ter sido selecionado no concurso de crônicas e fui ao jogo. Só quando voltei a Campos que fui saber que meu amigo Avelino tinha feito uma mandinga para o Botafogo perder. Lembrei-me logo daqueles dois flamenguistas de 99. E eu sem a camisa do Botafogo. Será que eles também fizeram mandinga? Não sei. Mas aprendi. Não levo mais flamenguista para ver jogo do Botafogo.

E pior. Cheguei ontem em casa (aprendi a falar assim e ninguém vai me corrigir – esse negócio de “à casa” é coisa de fresco). Após mais uma derrota do Botafogo, desta vez para o América Mineiro – a terceira seguida desde que meu pai e eu fomos ao Engenhão – e minha filha logo falou: “Pai, eu sou Botafogo. Botafogo de Loco Abreu”. O clima de velório, aumentado pelo telefonema do amigo botafoguense Alexandre muito desanimado com o time, havia momentaneamente acabado. Mas não é que depois do jogo do Vasco que havia empatado com o Palmeiras, no Placar da Rodada dentro do Jornal da Globo, ao ver que o Botafogo havia perdido mesmo com o gol de Loco Abreu, minha filha Luiza disse: “Pai, eu sou Flamengo!”

Tomei um susto e perguntei: “Porque minha filha? Você não falou que era Botafogo?” E ela respondeu: “Mas o Botafogo está perdendo, pai”, disse ela inocente. Eu retruquei: “Mas seu pai é Botafogo, seu avô é Botafogo, sua dinda é Botafogo”. E ela concluiu: “Mas meu tio é Flamengo”. Pensei: “Logo meu irmão que não entende de futebol.” Insisti e falei para ela: “Luiza, mas eu te dei a camisa do Loco Abreu”. Ela ficou quieta. Eu falei: “Toma. O bonequinho também é seu” (peguei o mascote/imã da geladeira). Continuei: “A bandeirinha é sua. O relógio é seu” (tudo do Botafogo). E ela sorriu.

A partir de agora mais do que o Botafogo voltar a ganhar é imprescindível que eu reconquiste a confiança da minha filha. Mesmo que o Botafogo continue perdendo. Que o Botafogo nunca mais ganhe. Porque ela não pode deixar de ser botafoguense. Para ela, como no hino, o Botafogo não pode perder. Nem que para isso eu esconda as derrotas do Botafogo dela. Ontem antes do jogo, um amigo falou em tom de brincadeira: “Se o Botafogo não vencer hoje eu deixo de ser Botafogo”. Após mais essa derrota eu raciocinei. Não vou deixar de ser botafoguense por causa de uma derrota. Pelo contrário. A cada derrota eu me torno mais botafoguense.